HISTÓRIA / Há 85 anos o sertão nordestino chorava a morte de Padre Cícero

Juazeiro do Norte ficou pequena para multidão de 60 mil que acompanhou o funeral do Padre Cícero Romão Batista. Comovidos, os fiéis carregaram o corpo do sacerdote na cabeça pelas ruas até o cemitério. Pleno velório, correu até boato de que ele estivesse vivo.
Padre Cícero teve grande influência política no Vale do Cariri
Juazeiro do Norte tinha cerca de 45 mil habitantes nos anos 1930. O povoado crescera. Havia se emancipado como município em 1911. Expandiu-se a partir da fama do padre – ou devoção e respeito a ele em vida. O lugar tinha 15 mil moradores nessa época, conforme um censo realizado a mando do seu primeiro prefeito, o Padre Cícero. Ele pedira a contagem de casas e moradores por ruas da cidade recém-criada oficialmente. Queria saber o que teria para administrar.
O Padre exerceu grande influência política e religiosa na região
No dia do velório e sepultamento do sacerdote, entre 20 e 21 de julho de 1934, Juazeiro ficou pequena para tanta gente. Para as rezas em nome de sua alma. Naqueles dias, 85 anos atrás, o sertão de romarias e fé chorou e lamentou a perda do Padim. “O corpo do padre foi visitado durante toda a noite por milhares de pessoas”, contou a matéria do jornal O POVO.

As “inúmeras chapas fotográficas” e filmetes feitos à época exibem Juazeiro tomada por fiéis no momento de pesar. Quando as portas da casa do Padre foram abertas à visitação, apenas meia hora depois do óbito, sete e meia da manhã de 20 de julho, uma multidão presente. A frente do imóvel tomada, a sala apinhada de gente. Não cabia mais dos que choravam e rezavam, em penitência ou gratidão. Romeiros ou o povo de perto.

Cidade de luto
Como solução, o corpo ficou exposto próximo à janela, para facilitar de vê-lo, mesmo ao longe. A cidade teve decretado o luto de três dias. Mas acostumar-se sem o Ciço Padim durou mais. No cortejo até o cemitério, “a massa popular carregou o féretro na cabeça”. Uma dúzia de padres na celebração de corpo presente, para encomenda da alma. Voos rasantes de aviões militares, buzinaço nas ruas, romeiros em êxtase com a viagem do “padre santo” à eternidade.
Fiéis e admiradores fizeram fila para a despedida do Padre milagreiro

O POVO noticiou os funerais

– “Os funerais do Padre Cícero – Sessenta mil pessoas acompanharam o morto à derradeira morada”.

Assim manchetou O POVO, apenas na sua edição de segunda-feira, 23 de julho de 1934. O jornal não circulava aos domingos e um atraso na chegada dos telegramas com os informes impediu a publicação ainda na tarde do dia 21. Cícero foi enterrado no dia seguinte à morte, pela manhã: “Às nove e quarenta, finalmente, efetuou-se o sepultamento, sem que se registrasse qualquer alteração da ordem”.
Uma multidão compareceu ao velório do Padre Cícero
A mesma matéria, mais adiante, esmiuça uma Juazeiro agitada e triste naquele dia histórico: “Devido à intensidade do movimento nas ruas da cidade, ocorreram dois acidentes de automóveis. (…) Registraram-se duas mortes por colapso cardíaco na ocasião do sepultamento. As vítimas eram pessoas desconhecidas”. E acrescenta: “Grande número de pessoas ficou rezando na capela do Perpétuo Socorro”, onde ele foi enterrado. Eram os pedidos e agradecimentos ao Padim. Ali, a santificação popular sobre seu nome já era eminente. Ainda vivo, o rosto de Cícero era cunhado em medalhinhas e vendido nas bancas aos visitantes como souvenir de fé. Praticavam momentos de fé e rogavam em nome do ex-capelão do Juazeiro – àquela época interditado das ordens sacerdotais pela cúpula do Vaticano.

Uma curiosidade: um boato chegou a animar parte da multidão, já quase quatro horas depois de iniciado o velório: “Às onze horas, circulou na cidade a notícia de que o Padre Cícero havia recuperado os sentidos. Verificou-se, por isso, verdadeira e ruidosa manifestação de alegria. Mas o rebate era falso, voltando a reinar profunda tristeza em todos os espíritos ao constatar-se a inveracidade da notícia”.

Padre Cícero morreu na manhã do dia 20 de julho de 1934. O velório foi na sala de sua casa, em Juazeiro do Norte. A visitação reuniu milhares. Todos faziam questão de conseguir tocar no caixão ou no corpo do sacerdote.

Por: Claudio Ribeiro / Jornal O Povo
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