Atos golpistas destruíram prédios dos Três Poderes em Brasília, no dia 8 de janeiro
Evangélicos bolsonaristas que viajaram a Brasília para participar do ato antidemocrático do dia 8 de janeiro relataram, em depoimentos prestados à Polícia Federal, que igrejas de diversos estados do país bancaram ônibus e organizaram caravanas para o evento.
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UOL obteve e analisou, durante a última semana, cerca de 1.000 depoimentos sigilosos prestados à Polícia Federal por extremistas presos no acampamento antidemocrático no quartel-general do Exército, logo após o 8 de janeiro.
A informação sobre o financiamento por igrejas evangélicas foi citada aos investigadores por pelo menos cinco pessoas, que foram presas pela PF no acampamento montado no quartel-general do Exército. A coluna teve acesso com exclusividade a depoimentos prestados à PF pelos alvos presos. Outros relataram também a participação de empresários no financiamento e até mesmo o recebimento de doações para que viajassem a Brasília para participar do ato antidemocrático.
Os depoentes, entretanto, evitaram fornecer detalhes sobre esses financiadores.
Moradora de Sinop (MT), Sirlei Siqueira afirmou à PF que viajou em uma "excursão da Igreja Presbiteriana Renovada", mas não deu detalhes sobre o financiador. Também morador de Sinop, Jamil Vanderlino afirmou ter viajado em um "ônibus financiado por igreja evangélica".
Questionado sobre os detalhes, ele se recusou a responder às perguntas da Polícia Federal. "Fará uso de seu direito de permanecer calado", registra o documento. Procurada, a Igreja Presbiteriana Renovada de Sinop disse que os pastores não participaram do ato do dia 8 de janeiro e afirmou desconhecer quem teria organizado a excursão.
Em um dos depoimentos, um aposentado de Uberlândia (MG) relatou ter recebido a oferta de um pastor quando participava de manifestação em um batalhão do Exército naquela cidade, mas afirmou não se lembrar de quem era o financiador nem deu detalhes sobre a denominação religiosa à qual pertenceria.
"Informa que teria conversado com um pastor, que não se recorda o nome, que teria conhecido próximo ao Quartel em Uberlândia, e ele informou que o interrogado poderia ir no ônibus de graça para Brasília", disse Edinilson Felizardo da Silva, em trecho do depoimento. Questionado, ele respondeu que o pastor não lhe ofereceu nenhuma outra vantagem financeira para a viagem, além da passagem.
Um outro alvo preso pela PF, morador de Maceió, Ademir Almeida da Silva, disse que tinha remuneração mensal de R$ 400 e citou o nome de um pastor da Igreja Batista, Adiel Brandão de Almeida, como um dos financiadores de sua viagem. Procurado, o pastor disse que viajou com Ademir para Brasília e que "cooperou" durante a viagem porque ele estava com pouco dinheiro, mas que não houve relação da igreja com essas despesas.
"Ao longo da viagem, a gente foi cooperando com ele. Ele pagou algumas coisas, ele estava com pouco dinheiro, alguns lanches nós rateamos, outros lanches não. Além disso, nós não tivemos participação em nada disso aí", afirmou à coluna. "Isso é financiar a ida de alguém? Não é. Financiar é quando você está dizendo que todas as despesas, transporte, comida, almoço e janta eram por minha conta, aí seria financiar. E mesmo que alguém fosse financiar, não é da conta de ninguém não", disse Almeida.
Já uma moradora de Xinguara (PA) relatou ser frequentadora da Assembleia de Deus e que integrantes da denominação religiosa participaram da caravana na qual ela viajou a Brasília, mas não deu detalhes sobre o responsável pelo financiamento.
A PF abriu inquérito, logo após o 8 de janeiro, para identificar os financiadores das caravanas com destino a Brasília. Apesar de não apresentarem detalhes nos depoimentos, os alvos tiveram seus celulares apreendidos, o que vai permitir aprofundar as informações citadas por eles. A investigação também analisa quebras de sigilo bancário e relatórios de movimentação financeira dos contratantes dos ônibus, para saber se há financiadores ocultos que não aparecem formalmente nos documentos.
O ato antidemocrático resultou na depredação das sedes dos Três Poderes e na prisão de mais de 1.800 pessoas, que participaram do quebra-quebra ou que estavam acampadas no quartel-general do Exército, em Brasília. Após os depoimentos e audiências de custódia, cerca de 1.400 permaneceram presos. Nas últimas semanas, o ministro Alexandre de Moraes proferiu decisões autorizando a soltura de aproximadamente 1.000 presos. Cerca de 400 permanecem detidos até o momento.
Por:
uol
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