POLÍTICA / CUNHA SAI, CENTENAS DE CUNHAS FICAM — E O JOGO CONTINUA O MESMO
O desprezo a Cunha por grande parte da população atingiu níveis estratosféricos com seu papel chave na articulação da expulsão de Dilma Rousseff. O ódio e desespero sobre tudo o que tramitou injustamente em Brasília ficou focado nas figuras de Eduardo Cunha e Michel Temer. (São farinha do mesmo saco, afinal. “Michel é Cunha”, assegurou o aliado Jucá.)
Além da imagem de usurpador escorregadio que Temer representa na consciência coletiva da oposição, não existe uma figura que melhor desminta a promessa de “impeachment para livrar o país de corrupção” do que um líder do partido-parceiro mais próximo ao PT nos esquemas de corrupção: ele mesmo é acusado de embolsar dezenas de milhões de reais através de contratos corruptos. Já a palavra “Cunha” virou quase um xingamento para milhões de brasileiros. Ele é tão odiado que nem consegue andar em aeroportos sem apanhar de tiazinhas sob uma trilha sonora de vaias.
“Diria que a politização do caso é exatamente o que permitiu que ele progredisse até onde foi sem ser interrompida por seus inimigos. Perversamente, também é o que vai começar a levar a investigação a seu fim, provavelmente nos próximos meses.”
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Foto: Agência Brasil |
Rapidamente, oponentes do impeachment esqueceram suas críticas a Moro e estão saboreando o momento:
AO VIVO no #Periscope: Cunha em cana! https://t.co/2SMed9n3DQ— Chico Alencar (@depChicoAlencar) 19 de outubro de 2016
Enquanto os treteiros tretam, todos os danos infligidos pelo ex-deputado durante seu reinado ficam de lado, por exemplo:
- Coordenou uma minirreforma que permitiu candidatos driblarem a lei ficha limpa
- Fez manobras para passar a redução da maioridade penal
- Articulou em favor de uma lei que dificulta abortos legais
- Apoiou uma mudança no Código Eleitoral que prejudica partidos pequenos e ajuda partidos como o PMDB
- Lutou contra o Marco Civil da Internet
- Avançou a Lei de Tercerização
A PRISÃO É A ÚLTIMA de uma longa sequência de más notícias para o peemdebista. Em maio, o ministro Teori Zavascki do Supremo Tribunal Federal o afastou de seu mandato de presidente da Câmara. Em junho, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu sua prisão. Em julho, sob pressão insuperável, renunciou à presidência da Câmara às lágrimas de crocodilo. Em setembro, a Câmara o expulsou de suas fileiras, o que fez com que perdesse o sagrado direito do político brasileiro: o foro privilegiado. Foi um longo caminho até o inevitável: a prisão. Ainda está em jogo se o mestre das artes políticas conseguirá se livrar por alguma lacuna da lei ou se a ficha realmente caiu.
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Foto: Fotos Públicas |
O fato de que uma possível delação premiada sua ainda esteja preocupando a Brasília é prova suficiente de que mesmo que Eduardo Cunha deixe a cena política, seu legado, sua essência e seus aliados de pensamento permanecem. Cunha sai, mas centenas de Cunhas ficam. Por: The Intercept / Andrew Fishman

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