MUNDO / 'Partidarismo' de mídia no Brasil deu peso a imprensa internacional, diz colunista da 'Economist
E uma das publicações mais citadas, ao lado dos jornais New York Times e Financial Times, é a revista The Economist, que ganhou notoriedade, entre outras razões, pela força simbólica de suas capas usando montagens com o Cristo Redentor para falar do boom e da queda da economia brasileira nos últimos 10 anos.
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Mídia internacional teria imagem mais isenta em tempos de Brasil polarizado |
"É um grande cumprimento para a Economist caso os brasileiros realmente estejam nos buscando como uma fonte de informação percebida como mais isenta do que a mídia doméstica. Isso pode estar acontecendo porque levamos nosso trabalho a sério e respeitamos o país", diz o britânico, que é também autor do elogiado livro Brasil: A Turbulenta Ascensão de um País.
"É interessante pensar que sofremos críticas por fazer elogios a Lula durante sua presidência e que a presidente Dilma Rousseff discordou publicamente de nossas posições sobre seu governo", diz Reid, em entrevista à BBC Brasil por telefone.
O jornalista acredita que o apelo da revista e da mídia internacional junto aos leitores brasileiros na cobertura da crise política seja uma reação contra o que chama de partidarismo na mídia nacional.
"A mídia brasileira está muito partidária, isso faz com que as pessoas olhem mais para publicações internacionais", diz ele.
Ele ressalta que, embora emita opiniões, a Economist não perde os fatos de vista. Cita como exemplo a posição sobre o processo de impeachment, que a revista recusa a chamar de golpe ao mesmo tempo que diz considerar a manobra constitucional uma má ideia.
"O impeachment está na legislação, não é um golpe. Mas dissemos que seu uso não é uma boa ideia. Algumas das pessoas julgando a presidente estão envolvidas em denúncias graves de corrupção e têm processos na justiça."
"Só que essa crise está custando caro demais para o Brasil e não pode durar outros dois anos até as eleições de 2018, e por isso defendemos novas eleições no Brasil. Temos opiniões de que as pessoas podem até discordar. Mas tomamos muito cuidado com os fatos".
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Reid: "Temos opiniões de que as pessoas podem até discordar. Mas tomamos muito cuidado com os fatos" |
"Lula contribuiu para o clima de polarização na época do escândalo do mensalão ao tentar isolar o PSDB com o discurso 'povo x neoliberais'. O quadro se complicou com o resultado apertado da eleição presidencial de 2014 e o fato de que Dilma não conseguiu atuar como pacificadora."
"Não deveria ser difícil para um presidente conseguir o apoio de mais de um terço do Congresso", argumenta Reid, referindo-se ao placar da votação da processo de impeachment de Dilma na Câmara dos Deputados, em que o governo conseguiu o apoio de apenas 27% dos parlamentares."
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Atuação de parlamentares em votação gerou críticas |
O britânico engrossa o coro de críticos às cenas no plenário. "O que mais me chamou a atenção foi que a causa do processo de impeachment contra a presidente (as pedaladas fiscais) não foi mencionada pela maioria dos deputados. O Congresso não fez nenhum a favor a si mesmo naquele dia para tentar conter a crise de credibilidade na política brasileira".
Reid também adota uma posição bastante crítica em relação ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha. "Para quem vê de fora, Cunha tem muito ao que responder e deveria ser afastado do Parlamento até que as acusações contra ele fossem investigadas, até por uma questão de credibilidade do processo".
Um governo Michel Temer, segundo o britânico, enfrentaria desde o início um problema de legitimidade, embora o atual vice-presidente tenha sido descrito pela Economist com um nome que "agrada ao mercado".
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Governo Temer teria "vontade, mas fraqueza" |
Reid, no entanto, discorda do argumento de que a crise política teria fragilizado as instituições brasileiras. Mesmo diante da estatística de que, desde 1950, apenas metade dos presidentes eleitos terminou o mandato.
"Cada circunstância é diferente. Dilma enfrenta um escândalo de corrupção em meio a uma crise política e econômica, por exemplo. E devemos lembrar que tanto Fernando Henrique Cardoso e Lula terminaram mandatos consecutivos com tranquilidade. O Brasil tem problemas no Executivo e no Legislativo, mas não concordo que haja enfraquecimento de instituições". Por: Bbc

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