Em novembro passado, Queiroz pediu que a mãe de Adriano permanecesse escondida no interior de MG, após uma decisão do STF garantir o andamento das investigações sobre o esquema de rachadinha de salários do gabinete de Flávio Bolsonaro.
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) estima que Adriano Magalhães da Nóbrega, o ‘capitão Adriano’, que era o chefe da milícia Escritório do Crime, transferiu mais de R$400 mil para as contas bancárias do policial militar aposentado Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), que foi preso na última quinta. O ‘capitão Adriano’ foi morto em uma operação policial na Bahia em fevereiro deste ano. Pelo menos R$69,5 mil foram depositados nas contas bancárias de Queiroz por restaurantes administrados pelo miliciano e seus familiares.
Em novembro passado, Queiroz pediu que a mãe de Adriano permanecesse escondida no interior de Minas Gerais, após uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) garantir o andamento das investigações sobre o esquema de rachadinha de salários do gabinete de Flávio Bolsonaro, quando este era deputado estadual no Rio de Janeiro. As informações sobre as transferências constam nos documentos judiciais que embasaram o decreto de prisão preventiva de Queiroz, detido ontem em um sítio de Atibaia, interior de São Paulo. A propriedade pertence ao advogado do senador, Frederick Wassef.
O Portal
UOL questionou o advogado de Queiroz, Paulo Emílio Catta Preta, sobre as transações financeiras e aguarda sua resposta. O criminalista também chefiava a defesa Capitão Adriano. Na última quinta (18), após visitar seu cliente na prisão, Catta Preta afirmou que Queiroz diz não entender o motivo de sua detenção. O advogado afirmou que o PM sempre prestou esclarecimentos às autoridades e que vai entrar com um habeas corpus no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) para que ele seja posto em liberdade.
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Queiroz estava em sítio que pertence a Frederick Wassef, advogado da família Bolsonaro | Foto: Nelson Almeida/AFP |
Depósitos bancários
A mãe e a ex-mulher de ‘capitão Adriano’ eram “funcionárias fantasmas” do gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, de acordo com a investigação conduzida pelo MP-RJ. “Há registros bancários de Fabrício José Carlos de Queiroz que indicam que o Restaurante e Pizzaria Rio Cap Ltda (administrado por Raimunda Veras Magalhães, mãe de Adriano) e o Restaurante e Pizzaria Tatyara (administrado por Adriano Magalhães da Nóbrega) transferiram R$69,5 mil para sua conta mediante cheque e TED (Transferência Eletrônica Disponível)”, lê-se no decreto de prisão preventiva de Queiroz assinado pelo juiz Flávio Itabaiana, da 27ª Vara Criminal do Rio.
A mãe de Adriano realizou 17 depósitos no valor total de R$91.796 na conta bancária de Queiroz, entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. A quantia correspondia a percentuais de seu salário como assessora do gabinete do deputado estadual Flávio Bolsonaro, segundo as investigações. Porém, ela nunca aparecia em seu posto de trabalho na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
‘Capitão Adriano’ era chefe da milícia que domina as comunidades de Rio das Pedras e Muzema, na zona oeste do Rio. Ele também liderava o braço armado do grupo conhecido como Escritório do Crime, uma equipe informal de assassinos de aluguel, que incluiria entre outros o policial militar da reserva Ronnie Lessa, acusado de assassinar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes.
Queiroz mandou mãe de Adriano se esconder
Queiroz e ‘capitão Adriano’ se conheceram em 2003, quando serviram juntos no 18º Batalhão da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Pouco tempo depois, o então deputado Flávio Bolsonaro homenageou Adriano com uma comenda da Alerj. Adriano estava preso à época, acusado de homicídio. Queiroz admitiu publicamente que indicou parentes de Adriano para trabalhar no gabinete de Flávio Bolsonaro.
Em novembro de 2018, a mãe e ex-mulher de ‘capitão Adriano’ foram exoneradas. Um anos depois, Queiroz determinou que Raimunda Veras Magalhães deixasse a cidade do Rio e permanecesse escondida no interior de Minas Gerais, afirma o MP-RJ. Ele temia consequências da decisão do STF que liberou o compartilhamento de dados financeiros de órgão de controle, a exemplo da Receita Federal e do antigo Coaf, sem a necessidade de aval da Justiça.
“O Ministério Público, através do rastreamento de mensagens trocadas com Márcia Oliveira de Aguiar [mulher de Queiroz], descobriu que Raimunda Veras Magalhães estava em uma casa na cidade de Astolfo Dutra, no interior de Minas Gerais”. Queiroz e a mulher trocaram mensagens de celular que indicam que o advogado Luís Gustavo Botto Maia, responsável pelas contas eleitorais de Flávio Bolsonaro, faria uma proposta financeira a Adriano e seus familiares, em troca de silêncio do miliciano. Botto Maia foi alvo de um mandado de busca e apreensão, na mesma operação que prendeu Queiroz.
“Após o encontro com o advogado, Márcia Oliveira de Aguiar telefonou para Raimunda Vera Magalhães para falar sobre a proposta transmitida pelo referido advogado, que foi discutida com Márcia Oliveira e Danielle Mendonça da Costa [ex-mulher de Adriano], na cidade de Astofo Dutra (MG),” afirma o MP-RJ. Márcia Oliveira enviou uma foto da casa na cidade de mineira para o celular de Queiroz. Ele pediu que ela apagasse o dispositivo que permitia a localização de seu celular.
A investigação do MP-RJ indica que o advogado Botto Maia se reuniu em Atibaia com Queiroz e o “Anjo”, apelido do advogado Frederico Wassef, antes de ele mesmo seguir para Astofo Dutra. Ele se encontrou com a mãe e a ex-mulher de ‘capitão Adriano’, no dia 4 de dezembro do ano passado. O Portal UOL procurou Botto Maia por telefone e e-mail. Ele ainda não respondeu. Márcia Oliveira Aguiar teve sua prisão decretada pela Justiça do Rio é considerada foragida.
As informações são do Portal UOL.
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