Nas décadas de 60 e 70, o Brasil enfrentou um período de perseguições, violência e censura, denominado Ditadura Militar.
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João Amazonas, líder do PC do B, organizou a guerrilha do Araguaia e faleceu em 2002 |
Amedrontados com o crescimento do comunismo no mundo, os militares tomaram o poder, derrubando o presidente João Goulart. A década de 60 foi marcada por um terror descomunal. Enfraquecidos, por volta de 68, os militantes, influenciados por táticas de guerra rural de Mao Tse-tung e Che Guevara, concentraram suas últimas forças no campo. Um grupo se alojou nas margens do Rio Araguaia, que abrange parte dos Estados do Pará, Maranhão e Goiás. No início da década de 70, estourava a guerrilha do Araguaia.
Organizada pelo Partido Comunista do Brasil (PC do B) a guerrilha do Araguaia, a priori, foi um movimento de luta armada entre os comunistas e militares. Com a instauração do Ato Institucional nº 5 (AI-5), a situação nos centros urbanos se agravou. Era necessária uma nova estratégia. Desde 1960 os militantes já possuíam homens nas margens do Araguaia. Estes homens se integraram aos ribeirinhos, ensinando-lhes táticas militares. O que facilitou tal aproximação foi o repúdio contra latifundiários, seringueiros e capitães, por parte dos ribeirinhos, que eram informados pelos comunistas sobre as ligações entre esses posseiros e as forças da ditadura. Com interesses em comum, os ribeirinhos se aliaram aos comunistas, dando-lhes, em troca, comida, moradia e conhecimento sobre a área. Esse fator foi determinante no desenvolvimento da guerrilha.
A guerrilha contra os militantes se desenvolveu em três frentes, sendo que nas duas primeiras os comunistas saíram vencedores. Além de não conhecerem a área, os militares não tinham o prestígio da população local. Pelo contrário, eram odiados. Os comunistas se lançavam mata adentro sempre que alguma ameaça era detectada. E sem o apoio da população, o êxito militar era quase impossível. Quase, porque na terceira frente, os militares entraram no jogo. Meses antes do embate, infiltraram tropas entre os ribeirinhos e foram aprendendo sobre a área e colecionando informações sobre os militantes que ali se encontravam. Com algumas doses de crueldade, torturavam locais a fim de descobrirem mais sobre os militantes. E foi com essa “decência” que, em 1973, os comunistas foram cercados e as organizações de esquerda, derrotadas. Os militares se armaram com fuzis FAL (os comunistas possuíam espingardas), abusaram do uso de helicópteros e aviões, atearam fogo em todas as cabanas que encontraram pelo caminho, destruíram depósitos de alimentos que foram construídos nos povoados próximos, e, baseados em informações de delatores e ribeirinhos ludibriados, enfraqueceram os comunistas e os derrotaram. Venceram pelo cansaço.
A guerrilha do Araguaia não foi bem-sucedida, mas, no âmbito tático, pode-se dizer que foi vitoriosa. Mostrou falhas, tanto dos revolucionários quanto das tropas militares. Os militares espalhavam pela população calúnias sobre os guerrilheiros, dizendo que eram bandidos, cubanos, russos. A população, coagida, os delatava. E por parte dos guerrilheiros, a maior falha foi de subestimarem o inimigo por conta das duas primeiras frentes.
A imprensa só divulgou a guerrilha após seu fim. Censurada pela ditadura, não cobria os acontecimentos e muitos nem sabiam o que estava acontecendo no interior do país. Comunistas capturados eram fuzilados ou decapitados. Os militares transformaram as margens do Araguaia em um cemitério aberto.
Por Demercino Júnior
Graduado em História.
Por:
uol
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