Governador, ministro da Saúde, deputado federal, reitor, médico, professor, pai e avô. Roberto Figueira Santos foi e fez muito em seus 94 anos de vida. Marcou uma geração de políticos e deixou um grande legado na cultura e na ciência.
Nessa terça-feira (9), ele morreu no Hospital Aliança onde estava internado havia duas semanas com um quadro de infecção urinária, mas não resistiu a complicações da doença. Roberto Santos era casado com Maria Amélia Menezes Santos desde 1963. Juntos, o casal teve seis filhos e outros nove netos. O sepultamento do ex-governador acontece hoje, às 11h30, no Cemitério Jardim da Saudade, em brotas.
O reitor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), João Carlos Salles, afirmou que o sentimento é de uma grande perda. “Os 94 anos de vida profícua do reitor Roberto Santos foram marcados por seu grande amor à ciência, à cultura e à Universidade Federal da Bahia”, disse. A Reitoria decretou luto oficial por três dias. Roberto Santos fez da Ufba a sua casa. A universidade era um ambiente literalmente familiar para ele, que é filho do fundador e primeiro reitor da Universidade, Edgard Rego Santos, além de ter ocupado o mesmo cargo que seu pai entre 1967 e 1971. Ele se formou em Medicina na própria Ufba, no início dos anos 1950. Logo após formado, obteve bolsa na Fundação W. K. Kellogg, o que lhe permitiu viajar para os Estados Unidos onde, durante quase três anos, frequentou hospitais das universidades de Cornell, Michigan e Harvard.
De volta a Salvador, passou a trabalhar em regime de dedicação exclusiva no Hospital das Clínicas, hoje Hospital Universitário Professor Edgar Santos (Hupes). Iniciou a carreira de magistério como assistente da 1ª Clínica Médica. Obteve o título de Doutor em Ciências Médico-Cirúrgicas mediante defesa de tese submetida à Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia. Submeteu-se a concurso para a docência-livre e conquistou, também mediante concurso de títulos e provas, a cátedra de Clínica Médica da mesma Faculdade.
Sua vida política teve o primeiro passo em 1967: foi nomeado secretário estadual de Saúde por Luiz Viana Filho, mas deixou o cargo no mesmo ano ao receber a nomeação de reitor da Ufba. Em quatro anos de mandato, se dedicou reformas na estrutura universitária: acabou o sistema cátedra, substituindo para a estrutura de departamentos. Além disso, criou os institutos das áreas básicas do conhecimento e intensificou a pesquisa com a implementação de uma rede de pós-graduação.
Após o mandato na Ufba, iniciou sua vida partidária ao se filiar à Arena, partido de sustentação da ditadura militar, em 1974. No ano seguinte, foi indicado para o cargo de governador do estado. Sua gestão, entre 1975 e 1979, foi marcada por grande ênfase na área social. Focando nisso, construiu uma série de centros sociais urbanos e espaços de esporte e lazer. O Estádio de Pituaçu, que leva seu nome, foi uma das obras construídas por ele. A rede pública de atenção à saúde foi consideravelmente ampliada e foram muito aumentadas as oportunidades de matrículas no ensino médio profissionalizante. Implantou o primeiro Museu de Ciência e Tecnologia do país.
Na economia, deu um grande impulso à construção de Polo Petroquímico de Camaçari, projeto idealizado e implantado por Antônio Carlos Magalhães. Para fomentar o turismo, construiu o Centro de Convenções da Bahia. Construiu o Parque de Exposições. Na área da infraestrutura, construiu rodovias e aumentou consideravelmente a eletrificação rural em várias regiões. Deixou o Palácio de Ondina em 1979, sendo sucedido por ACM, que partiria para o segundo dos seus três mandatos como governador da Bahia.
Sua gestão foi responsável por um passo importantíssimo na luta contra a intolerância religiosa na Bahia. Vice-reitor da Ufba, Paulo Miguez lembra que ele revogou uma lei que classifica como “injusta e racista”, que obrigava os terreiros de candomblé da Bahia a se registrar na Delegacia de Jogos e Costumes da Secretaria de Segurança Pública do Estado. Antropólogo e professor da Ufba, Vilson Caetano explica que essa obrigação de registro no Setor de censura iniciou em 1938. As casas de candomblé, além de se cadastrar, tinham que solicitar uma autorização para fazer festas públicas e isso gerava um grande constrangimento. “O professor Roberto Santos era um homem muito sensível. Ele assinou o Decreto lei 25093 de 15 de janeiro de 1976, desobrigando as sociedades que praticassem o culto afro-brasileiro registrar, pagar taxas e obter licença junto às autoridades policiais. Assim sendo, ele se tornou um marco para a luta em favor da liberdade de culto e com bate ao racismo institucional e a intolerância religiosa”, diz.
Por:
bahiaeconomica
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