POLÍTICA / NAZISTAS BRASILEIROS ODEIAM A ESQUERDA E VENERAM BOLSONARO
Foto: Getty Images |
Mas enquanto Bolsonaro joga o nazismo alemão no colo da esquerda, nazistas brasileiros combatem as esquerdas e veneram Bolsonaro. Os fatos falam por si.
Em 2011, quando Bolsonaro fez declarações homofóbicas no CQC e respondeu a Preta Gil que não correria o risco de ver seus filhos apaixonados por uma negra porque foram bem educados, grupos neonazistas organizaram um ato de apoio ao então deputado no Museu de Arte de São Paulo, o Masp. “Quando vi o que estão fazendo com ele, entrei na comunidade. Sou fã do dep. Jair Bolsonaro’ do Orkut e lancei a ideia de fazer um ato cívico na Paulista”, contou o extremista de direita Marcio Galante para o Diário de São Paulo. Segundo ele, participariam do ato organizações militares extra-quartel, separatistas, católicas radicais e grupos de extrema direita. O ato de apoio a Bolsonaro também foi convocado no fórum “Stormfront.org”, comandado pelo movimento neonazista internacional White Pride Worldwide. Um membro do fórum chamado “Erick White” escreveu: “Vamos dar o nosso apoio ao único Deputado que bate de frente com esses libertinos e Comunistas!!! Será um manifesto Cívico, portanto, levem a família, esposas, filhos e amigos”. O convite para o ato é finalizado com um “14/88″. O número 14 refere-se às 14 palavras da frase do supremacista branco americano David Lane: “Devemos assegurar a existência de nosso povo e um futuro para as Crianças Brancas”. Já o número 88 significa “Heil Hitler”, com o número 8 representando a letra H, a oitava do alfabeto.
Bolsonaro afirmou que não poderia estar presente, mas apoiou o ato: “Fico feliz se o movimento for voltado contra as propostas que estão aí, de invadir as escolas de primeiro grau simulando o homossexualismo e preparando nossos jovens para a pedofilia”.
Estiveram presentes ao ato vários grupos neonazistas como o Kombat RAC (Rock Against Communism) e o Ultra Defesa. Alguns se identificavam com roupas, bandeiras e tatuagens alusivas ao nazismo. Grupos de esquerda apareceram no Masp para protestar contra os nazistas, e o clima ficou tenso. A Polícia Militar precisou fazer um cordão de isolamento para evitar o confronto. No mundo inteiro, aliás, episódios de pancadaria entre esquerdistas e neonazistas nas ruas acontecem com frequência. Se eles conhecessem a História segundo Bolsonaro, estariam se beijando.
Eduardo Thomaz, líder do Ultra Defesa, afirmou “a gente está dando apoio ao deputado Jair Bolsonaro porque ele representa a família brasileira e nós temos o direito de apoiá-lo”. Em seu site, o Ultra Defesa afirma que seus princípios fundamentais são “Deus, Brasil e Família”. Os integrantes do grupo também são adeptos da “Saudação Romana”, que é o ato de estender o braço para a frente com a palma da mão para baixo. Sim, aquele mesmo gesto utilizado para saudar Adolph Hitler.
Manifestantes pró-Bolsonaro exibem símbolos nazistas em São Paulo (SP). Fotos: Reprodução/YouTube |
Durante as eleições, Bolsonaro entrou com uma ação por danos morais contra uma charge que o associava ao nazismo. A desembargadora Cristina Tereza Gaulia negou o pedido. Ela justificou afirmando que, se Bolsonaro não ficou constrangido em aparecer na foto com um correligionário fantasiado de Hitler, não haveria também dano moral na charge. A foto é essa:
Foto: Reprodução/Facebook |
A candidatura de Professor Marco Antonio chegou a receber doação financeira de Flávio Bolsonaro para a sua campanha.
Convidado por Carlos Bolsonaro, Professor Marco Antônio (PSC) visita a Câmara do Rio. Foto: Reprodução/YouTube |
Skinhead recepciona Jair Bolsonaro e seu filho em Recife (PE). Foto:Reprodução/YouTube |
Sim, o então deputado escreveu para um nazista brasileiro. A carta foi encaminhada para a apuração do Ministério Público. O conteúdo dela não é conhecido, pois o processo corre sob segredo de Justiça. Pode não ser nada demais. Pode ser apenas uma carta com conteúdo de campanha eleitoral padrão, mas também pode não ser. Pelo fato de ter sido apreendida e enviada para averiguação do MP, suponho que o seu conteúdo não seja tão inocente. Aliás, a imprensa não deveria mais ficar perguntando para o Bolsonaro se o nazismo é de direita ou de esquerda, como fez em Israel. A gente já conhece a resposta. Tem que perguntar o que tinha naquela carta enviada para o seu simpatizante nazista de Minas Gerais. É um direito do brasileiro conhecer que tipo de relação seu presidente mantinha com um extremista criminoso.
É evidente a sintonia entre algumas das principais pautas de Bolsonaro e as dos nazistas: o ataque às minorias, a defesa da família, o nacionalismo e o combate ao comunismo. Isso não faz de Bolsonaro um nazista, mas não deixa dúvidas de que o bolsonarismo e o nazismo estão em espectros ideológicos muito próximos. Mas muito mesmo. Bolsonaro pode não ser nazista, mas tem amigos que são.
Por: theintercept/ João Filho
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