BRASIL / Governo evangélico abre guerra contra a igreja católica, diz Jornalista
O fantasma daquela era volta com tudo por conta de matéria publicada neste final de semana pelo Estado de São Paulo em que a ABIN e seu órgão superior o Gabinete de Segurança Institucional colocam a Igreja Católica como uma inimiga potencialmente perigosa, até por ser "aliada histórica do PT". Os bolsonautas querem frear o que eles entendem como ação de vanguarda dos católicos na oposição ao governo.
O ponto que provocou a revolta do governo, na matéria do Estadão, foi o encontro que o Vaticano promoverá para discutir a questão amazônica. Uma absurda intromissão, no entender do general Augusto Heleno, ministro chefe do GSI e o "patrão" da ABIN. Heleno lançou mão do velho chavão da soberania para desancar a iniciativa católica. "É interferência em assunto interno do Brasil", disse o principal auxiliar, na seara militar, de um governo que não está nem aí na hora de interferir em assuntos internos da Venezuela, por exemplo.
O debate a ser promovido pela Igreja pretende mapear questões referentes à situação dos povos da floresta, indígenas e quilombolas, além de mudanças climáticas provocadas por desmatamento. Todos temas que deixam de cabelos em pé o presidente e seus teóricos, para quem todos esses quesitos são perigosas bombas terroristas que a esquerda tem para detonar e instalar em nosso país o comunismo ateu e desagregador. Informes da Abin dão conta de que o encontro será amplamente explorado para falar mal do governo Bolsonaro pelo mundo afora. Como se precisasse.
A guerra deflagrada pelo governo contra os católicos lembra tempos passados e serve de alerta para os dias de hoje, quando temos um governo que grita contra a ideologia para implantar a sua, prega autodeterminação aqui e agride países vizinhos lá fora e reclama da interferência de uma religião ao mesmo tempo que outra dá as cartas nesse mesmo governo.
Na ditadura militar (1964-1985), a Igreja Católica esteve na alça de mira, desde o nascedouro. Tradicionalmente aliada dos governos, em tempos passados, ela começava a se desligar do poder e se aproximar do povo. O papado de Dom João XXIII marcou o começo desse posicionamento. Na década de 1960, no Brasil, a Igreja liderou vários movimentos de resistência ao golpe militar. As conferências episcopais de Medellín (Colômbia, 1968) e Puebla (México, 1979) amarraram a Teologia da Libertação e demarcaram a igreja de Dom Helder Câmara, Dom Paulo Evaristo Arns, do Padre José Comblím, de Frei Leonardo Boff, de Frei Beto.
A reação dos militares foi dura. E deixou uma relação de vítimas que inclui dezenas de sacerdotes presos, torturados e mortos. Vítimas de homicídios, como o padre Antônio Henrique Pereira Neto, auxiliar direto de Dom Helder, torturado e morto por policiais do DOPS de Pernambuco, em maio de 1969. Ou de suicídios, como foi o caso do frade dominicano cearense Tito Alencar Lima, que passou os últimos anos de vida ouvindo as vozes de seus torturadores até que não aguentou mais e tirou a própria vida, em agosto de 1974, em Eveux, França, onde vivia exilado.
É difícil assistir escaramuças como essa da Abin em cima da Igreja Católica sem lembrar de tudo isso. Aliás, é necessário lembrar de tudo isso quando acontecem ameaças desse tipo. Ainda mais se tais reações vêm de um de um governo que tem na seara religiosa um componente forte e influente.
A bancada evangélica foi um dos principais alicerces da candidatura de Bolsonaro. E hoje é um dos maiores pilares do governo que ajudou a eleger. A ponto de operar situações aparentemente inexplicáveis, como a presença da pastora Damares Alves à frente do ministério da Mulher, da Família e dos Direitos. Vem dos evangélicos também temas polêmicos do governo, a exemplo da mudança da embaixada brasileira em Israel, de Tel Aviv para Jerusalém.
O general Heleno, além de integrar a majoritária ala militar do governo Bolsonaro, é tido como um dos mais ardorosos quadros da ala evangélica. É personagem central na notícia que hoje inquieta o País.
Por: Gilvandro Filho/ Jornalistas pela democracia

Nenhum comentário:
Obrigado pelo seu comentário. A área de comentários visa promover um debate sobre o assunto tratado na matéria e não troca de ofensas entre leitores. Comentários anônimos e com tons ofensivos, preconceituosos e que firam a ética e a moral não serão liberados.
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site Val Bahia News.