POLÍTICA / A perigosa seita de Curitiba
Todo o Brasil sabe que a fraude do impeachment sem crime de responsabilidade teria de ser complementada pela farsa das denúncias sem crimes contra Luiz Inácio Lula da Silva. O que querem, o único que querem, é impedir que Lula se candidate de novo em 2018 e resgate o país das garras do golpe e do seu terrível programa de retrocesso contra o povo brasileiro. O golpe precisa se completar.
A denúncia contra o melhor presidente da história recente do país tem a profundidade de figurinhas de power point e a consistência lógica de um pesadelo surrealista. Ao contrário de Isaac Newton, alguns procuradores parecem ter como única especialidade a capacidade infindável de construir hipóteses sem nenhuma base fática. Hyphotesis fingo parece ser o lema epistemológico de certos membros do MPF.
Isso fica evidente no caso do famoso “triplex”, que nunca foi de propriedade de Lula e que jamais foi ocupado por ele. Como o ex-presidente pode ser beneficiado por reformas num imóvel que nunca foi de sua propriedade e no qual jamais habitou? Numa total inversão de valores, parece que lidamos, nesse caso, com procuradores e juízes que consideram a realidade como algo irrelevante ante os grandiosos delírios de sua fértil imaginação política.
Lula, que, no lamentável show pirotécnico apresentado pelos procuradores em Curitiba, foi apresentado como o “comandante” omnipresente e omnisciente de gigantesco esquema de corrupção, deveria ter acumulado, nessa visão paranoica e delirante, patrimônio nababesco. Entretanto, até agora só conseguiram provar que o ex-presidente teria comprado dois pedalinhos e uma canoa. E nem de ouro são. Ladrão incompetente esse Lula. Devia ter aprendido com Eduardo Cunha as manhas sofisticadas dos trustes suíços.
Os procuradores trabalham, contudo, com a lógica do paradoxo. Ele não tem nada em seu nome, portanto tudo deve ser dele. Essa é a prova. Não há prova, ergo tudo está provado. Se não há prova é porque o crime foi perfeito. Lula não deixou pistas. Portanto, houve crime. O Nada é a evidência do Ser. Brilhante! Wittgenstein perde.
Torquemada também. Como os antigos inquisidores, os procuradores de hoje não têm provas, mas transbordam de santa convicção. Possuem tanta convicção, tanta fé, que dispensam a verdade e a realidade, detalhes insignificantes para aqueles que têm missão divina a cumprir.
Por isso, as acusações contra Lula têm a precisão de uma bala perdida disparada por um bêbado. Reconheça-se, porém, a precisão do timing da denúncia inepta. Ela surge logo após a cassação de Eduardo Cunha, que colocou o governo golpista na defensiva.
Essa obsessiva caçada judicial a Lula construiu uma espécie de “fraudecracia”, que tenta transformar meras hipóteses e ilações politicamente motivadas em fatos incontestáveis e provas condenatórias. Numa alquimia vã, tentam transmutar limo ideológico em ouro jurídico.
É inacreditável que o Ministério Púbico, que deveria primar pelo republicanismo e a seriedade, tenha dado esse espetáculo patético ao país. Um espetáculo mais apropriado a palanque de candidato a vereador.
Não vamos nada bem com essa parte do MPF que se coloca cima da Constituição e das leis e que atropela, de modo sistemático, direitos fundamentais assegurados em tratados internacionais. Que arranca delações com prisões preventivas que duram meses. Que conduz coercitivamente à margem do que dispõe a lei. Que viola o sigilo legal dos processos e faz vazamentos seletivos. Que se coloca acima da lei que deveria cumprir e proteger. Esse é um caminho muito perigoso. Perigoso para todos. Os “possuídos” de Curitiba são perigosos para o Estado Democrático de Direito.
E, dessa vez, se excederam. Mesmo para os padrões neoudenistas de muitas denúncias, dessa vez a partidarização, a sede por sangue e holofotes, a volúpia punitiva e o vazio legal ficaram muito escancarados. Parece que se criou uma seita político-religiosa instalada em Curitiba que quer incendiar o país. Não surpreende. Seitas radicais costumam ser piromaníacas.
Mas a denúncia vazia não vai colar. Nem aqui e nem em Curitiba. A população brasileira e a opinião pública mundial já intuem que se trata de uma perseguição politicamente motivada por parte de agentes que fazem vista grossa a evidências robustas que apontam para o outro lado do espectro político. O povo não entende muito de processos e de leis, mas percebe facilmente quando alguém está sendo injustiçado.
A maior parte da população sabe que o único crime de Lula foi ter tirado mais de 30 milhões de cidadãos da miséria e o Brasil do Mapa da Fome. No fundo, é isso que incomoda. Lula representa tudo o que eles odeiam mais. Lula é aquela pobre criança do sertão nordestino que deveria ter morrido antes dos cinco anos, mas que sobreviveu. Lula é aquele miserável retirante nordestino que veio para São Paulo buscar, contra todas as probabilidades, emprego e melhores condições de vida, e conseguiu. Lula é aquele candidato que não devia ter chegado ao poder, mas chegou. Lula é aquele presidente que devia ter fracassado, mas teve êxito extraordinário. Lula é o excluído que devia ter ficado em seu lugar, mas não ficou.
Para eles, Lula não deveria existir, mas existe. O supremo crime de Lula é simplesmente ser Lula. É existir para o Brasil e o seu povo. Desse crime, Lula é culpado. Sempre foi, sempre será. De outros, não.
Lula é o maior líder popular da história do Brasil e um dos melhores presidentes que o país teve. Entre todos, é o único que foi (e é) um líder mundial. Como bem disse Bono Vox, Lula não é apenas um patrimônio do Brasil, Lula é um patrimônio do mundo.
Não há power point que possa desfazer isso. Não há power point que possa ocultar a ausência de substância fática dessa denúncia vazia de provas. Não há palavrório altissonante de um moralismo neoudenista que possa dissimular o silêncio constrangedor das evidências não apresentadas. Não há tecnicismo jurídico capaz de mascarar a grosseira injustiça que se comete contra um homem que sempre lutou contra as injustiças.
A farsa do impeachment sem crime já foi desmascarada para o mundo. A “fraudecracia” que tenta condenar sem provas ou indícios o maior líder popular do Brasil terá o mesmo fim.
O definitivo julgamento da História dispensará o power point. Por: Marcelo Zero / Brasil 247
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