MEIO AMBIENTE / A CASA DO JAGUAR
O trabalho pretende envolver os proprietários rurais às margens do rio na composição do que poderá vir a ser o maior corredor de biodiversidade do mundo, com trechos de até 40 quilômetros de largura, 20 de cada lado do rio, abarcando uma área total de 10,4 milhões de hectares, segundo a BJF.
O projeto foi idealizado na década passada pelo Instituto Onça-Pintada (a BJF passou a apoiar a operacionalização) como um meio de fortalecer o elo entre a agricultura e a conservação ambiental, atividades que se tornaram antagônicas durante o período da Revolução Verde.
Na opinião do professor titular do Departamento de Ciências Biológicas da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), Ricardo Ribeiro Rodrigues, o corredor não é uma proposta ambiental. “É ambiental-agrícola e representará um ganha-ganha para a região.”
Os alunos do Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal da Esalq coordenarão o processo de reflorestamento do corredor em parceria com a empresa Bioflora – Tecnologia da Restauração.
AO LADO DA LEI
A legislação ambiental brasileira, mais Código Florestal e o Programa de Regularização Ambiental PRA), é a grande aliada do Corredor do Araguaia. As propriedades rurais em todo o País inevitavelmente terão de se adequar às normas nos próximos 20 anos (10% de recuperação florestal a cada dois anos), a contar da adesão ao PRA, sem a qual o agricultor não tem acesso aos financiamentos. Ao se tornarem parceiros do projeto, os pequenos produtores rurais do Araguaia receberão assistência técnica e mudas nativas sem nenhum custo. Seus investimentos serão basicamente para pagar a mão de obra.
Um reflorestamento iniciado em 2 012 em propriedade do Cerrado goiano às margens do Araguaia foi acompanhado e documentado pelos técnicos do projeto. Baseados nessa observação, eles concluíram que, nessa região, serão necessárias cerca de 1.100 árvores de 50 a 55 espécies Para isso, os ambientalistas, agrônomos e técnicos envolvidos contam com o fato de que os agricultores ribeirinhos têm prazo e meta para se adaptarem à legislação.
O projeto foi idealizado na (a BJF oferece suporte para a operacionalização) como um meio de fortalecer o elo entre a agricultura e a conservação ambiental, atividades que diferentes por hectare. As propriedades no Cerrado demandarão um acompanhamento mais intensivo da área reflorestada. Já na Amazônia, esse manejo será mais simples. “Basta plantar as mudas e deixá-las se desenvolver naturalmente. Em outras áreas, a mata poderá se regenerar espontaneamente”, afirma o ambientalista holandês Ben Valks, da BJF. O ambiente quente e chuvoso da Amazônia somado às sementes e ao grande número de pássaros presentes nas paisagens naturais são ingredientes para uma regeneração natural vigorosa na região .
MAIS FÁCIL DO QUE PARECE
A reação de agricultores e quilombolas de Limoeiro do Ajuru (PA) abordados recentemente por uma equipe da BJF foi positiva. Ricardo Rodrigues conta que, entre eles, muitos estão atrás de ajuda para formar sua APP e Reserva Legal, alguns por pura consciência ambiental, outros por pressão da lei.
Em outra experiência recente de adequação ambiental em propriedades de Paragominas (PA), Rodrigues relata que os agricultores costumam se surpreender positivamente ao receber os diagnósticos das propriedades. Em geral esperam encontrar muito mais irregularidades do que realmente existe. Esse é um bom momento, segundo ele, para reforçar a ideia de que a questão ambiental não é impedimento para a sustentabilidade econômica da propriedade agrícola. “O impeditivo é a falta de uma boa orientação técnica na ocupação das áreas”, afirma o biólogo. “Parcerias para esse tipo de orientação já estão sendo negociadas com a Embrapa.”
As propostas de constituição de áreas de Reserva Legal serão realizadas dentro dessa perspectiva da sustentabilidade econômica da propriedade. A lei permite que essas áreas a serem reconstituídas poderão ter aproveitamento econômico.
“O corte raso está vetado”, explica o professor da Esalq. “Mas o produtor vai poder retirar de lá madeira em uso sustentável, frutíferas nativas, melíferas e plantas ornamentais.”
DOAÇÕES
A iniciativa para viabilizar comercialmente a etapa de mapeamento do corredor está sendo lançada neste primeiro semestre. Seiscentas pessoas, físicas ou jurídicas, de várias partes do mundo estão sendo convidadas a doar €$ 1.000, €$ 5.000 ou €$ 10.000 mil – há outros patamares de doações de grandes empresas multinacionais que chegam ao valor de €$ 1 milhão. Em troca, os doadores, além de receberem uma escultura da onça-preta, poderão participar da Campanha TheLast600, uma espécie de marketing verde (www.TheLast600.org ).“Estamos falando do plantio não de milhões, mas de bilhões de árvores”, justifica Valks.
Nesta etapa de mapeamento, os organizadores esperam identificar todos os proprietários na área do corredor. “Queremos apresentar o projeto. Acreditamos que hoje 70% das propriedades pertençam a empresas multinacionais”, afirma Valks. Ele acredita que essas empresas terão interesse em colaborar com o corredor, não apenas porque precisam se adequar à legislação, mas também pela oportunidade de poder contribuir com uma proposta ambiental de grande porte.
André Nave, diretor da Bioflora Tecnologia da Restauração, afirma que, tão logo as propriedades estejam mapeadas e as irregularidades identificadas, a empresa começará a apresentar propostas de metodologia de recuperação.
“Criaremos projetos para cada proprietário mostrando as áreas que precisam ser recuperadas e quando e como recuperá-las. A gente coloca tudo dentro de um cronograma que já está estipulado dentro da própria legislação.”
Criar um hábitat seguro para a onça-preta não é o objetivo maior do corredor. O felino se tornou símbolo da proposta por ser topo de cadeia e por estar em risco de extinção. Há apenas cerca de 600 deles na natureza. “Escolhemos o jaguar preto como ícone porque a preocupação com o seu destino simboliza um comprometimento com todas as espécies em situação precária”, afirma Valks. Por: Pagina22
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