MUNDO / O silêncio cúmplice de Obama e Hillary
A eleição de Nestor Kirchner na Argentina, em 2003, permitiu que os dois mais importantes governos da Ameérica do Sul constituíssem um eixo, em torno do qual se fortaleceu o Mercosul, se constituiu a Unasul, o Conselho Sulamericano de Defesa, entre outros organismos da região, até se chegar à Celac, que dava por terminada, finalmente a Doutrina Monroe na America Latina.
Diante dessa realidade de fato, os governos norteamericanos trataram de incentivar polos alternativos, como a Aliançaa para o Pacifico, centrada no México, no Peru e em outros governos neoliberais na America Latina, sem muito sucesso. Depois de querer erigir o Mexico como alternativa neoliberal no continente, viu o governo de Peña Nieto fracassar rapidamente. Da mesma maneira, com o governo de Sebastien Piñera no Chile.
Enquanto isso, operava nas margens possíveis, como foram os casos dos golpes brancos em Honduras e no Paraguai. Em Honduras, o papel de Hillary Clinton foi decisivo, como ela foi cobrada agora nos debates das primárias democratas e ela confirmou sua participação direta no golpe.
Diante do isolamento no continente, os EUA buscavam conviver com os governos brasileiros. Obama usava seu fair play para exaltar o Lula como “o cara”, diante da inevitável projeção internacional do presidente brasileiro, mas teve dificuldades para justificar as escutas de espionagem do seu governo, diante da Dilma. Hillary visitou a presidente Dilma, supostamente para aprender das nossas experiências de sucesso de políticas sociais, para dar um verniz progressista na sua campanha, que precisava consolidar seu apoio entre os negros e os latinos, para triunfar nas primárias.
A eleição de Mauricio Macri abriu as portas para o sonho norteamericano de romper o eixo da integração entre os governos do Brasil e da Argentina. Depois de se negar a intervir para evitar o absurdo da operação de arbitrário juiz nortemamericano a favor dos fundos abutre, Obama correu rapidamente a visitar o novo presidente argentino, para expressar a identidade dos EUA com a nova política economica do governo argentino e sua disposição de abrir uma nova fase nas relações entre os dois países.
Diante do golpe branco em curso no Brasil, o silencio tanto do presidente norte-americano como da favorita para sucedê-lo é ensurdecedor. Enquanto quer aparecer como defensor da democracia diante de regimes como os da Venezuela e de Cuba, ao se esboçar o maior golpe branco existente até aqui no continente, tanto Obama quanto Hillary não conseguem esconder que seu silêncio é sinal de aprovação da tentativa de expulsão do PT do governo, mesmo depois dos elogios ao sucesso desses governos.
O sonho de reconstituir um eixo neoliberal no coração da America do Sul, como havia tido entre os governos de FHC e de Menem, parece se tornar realidade, mesmo se de maneira ainda hipotética e muito precária no caso do Brasil. Seria o ponto de apoio para isolar e buscar derrotar os governos com que os EUA sempre se incomodaram mais no continente – os da Venezuela, da Bolívia e do Equador.
Uma cumplicidade escandalosa com os golpistas demonstra como o Império não muda no fundo das suas politicas, apenas se adapta às situações adversas. Mas o prestigio dos EUA no continente está definitivamente golpeado, mais ainda que sua decadência economia não lhe permite competir com os extensos acordos da China e da Russia em toda a região. Mas a política imperial norteamericana nunca deixou de embarcar nas aventuras golpistas na região, como as atitudes vergonhosas do Obama e da Hillary comprovam. Por: EMIR SADER, Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros
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