ENTRETENIMENTO / Esporte Interativo fez a TV Globo elevar valores pagos
Após surpreender o mercado com aquisição dos direitos de transmissão da Liga dos Campeões em 2015, o Esporte Interativo entrou de cabeça na disputa pelos direitos de TV fechada do Brasileiro a partir de 2019, com isto, elevou os valores pagos até então e até obrigou a TV GLOBO a mudar o modelo de negociação com os clubes. Como era previsto, a entrada do canal veio para beneficiar até aqueles que já estavam ( se sempre estarão comprometidos com a TV GLOBO por diversos motivos, sendo que alguns, escapam do próprio interesse do clube)
Para quem duvidava do potencial de concorrer com o Grupo Globo, ao contrário do que aconteceu com a TV Record em um passado recente, ela já fechou contrato com Santos, Inter, Atlético-PR, Ceará, Paysandu, Coritiba, Bahia e mais seis clubes que ainda não divulgaram o acerto oficialmente. Uma grata surpresa.
Edgar Diniz, economista com carreira em bancos como Salomon Brothers e JPMorgan Chase hoje ocupando a vice-presidência de conteúdo do Canal Esporte Interativo no Brasil concedeu uma longa entrevista ao Jornal Folha São Paulo deste sábado, quando comenta as barreiras à atuação de uma jovem empresa no mercado brasileiro e descreve as dificuldades nas disputas com a Globo.
Veja a entrevista
Folha - Como funciona a relação com o grupo Turner? Qual o tamanho do aporte financeiro?
Edgar Diniz - Hoje, o Esporte Interativo é 100% parte do grupo Turner. A aquisição total aconteceu em fevereiro do ano passado. Não tem a definição de um aporte de dinheiro ao Esporte Interativo. Eles compraram a empresa, e nós elaboramos um plano de negócios, com uma previsão de orçamento. Ele também varia de acordo com as oportunidades. Por exemplo, a disputa pelos direitos de TV fechada do Brasileiro a partir de 2019, que não estava prevista inicialmente, mas que foi analisada e vista como uma possibilidade interessante de negociação.
Quanto a crise interna brasileira e a consequente valorização do dólar ajudam a atuação de vocês no Brasil e a disputa por direitos de transmissão?
Há dois lados. Por um deles, a valorização do dólar pode favorecer do ponto de vista dos investimentos. Por outro, há uma crise no Brasil que faria qualquer interessado em investir ficar mais conservador. A Turner tem um compromisso histórico com o país. Ela está há mais de 20 anos aqui, é líder no segmento de TV paga, à frente nos canais infantis e de filmes e séries, e agora complementa seu portfolio com esportes. A variação cambial tem efeito neutro nos investimentos de longo prazo da Turner, então.
Em entrevista à Folha no passado sobre as dificuldades de entrada do Esporte Interativo nas principais operadoras de TV por assinatura, o senhor falava em 'interferências indevidas no mercado'. Recentemente, a emissora tem exaltado o ideal da livre concorrência em comunicados. Quais são os entraves à livre concorrência no mercado brasileiro?
A gente defende os princípios da livre concorrência independentemente de nos prejudicarem ou beneficiarem em algum momento. Quem fizer o melhor trabalho, vence. É um princípio que favorece todos os 'players' do mercado, especialmente o consumidor final.
Entrando especificamente na questão do futebol, é muito importante que os direitos de transmissão dos clubes sejam negociados em janelas, como foi determinado pelo Cade em 2010. Antes disso, você tinha uma situação onde um grupo como o Globo tinha vantagem competitiva indevida se ele conseguisse fazer com que a comercialização fosse conjunta –a chamada "venda casada" de todos os direitos. Quando o Cade determinou que essas mídias fossem separadas, ele abriu espaço para que surgissem outros players disputando os diferentes direitos de transmissão em TV aberta, fechada, etc.. Isso beneficia os clubes, que poderão escolher a oferta que acharem melhor; e os torcedores, que poderão decidir entre diferentes ofertas de transmissão.
Dois exemplos de onde a livre concorrência funciona são os Estados Unidos e o Reino Unido. Não por acaso, são os mercados mais desenvolvidos. Veja o sucesso da NFL: CBS, Fox, ESPN, várias empresas têm os direitos de transmissão. NBA: TNT, ESPN. Sempre tem mais de um canal. Quem transmite a Premier League? A Sky e a BT. Isso assegura que os clubes vão obter o valor de mercado por seus direitos.
Outra vantagem é que os clubes conseguem ter direitos super razoáveis respeitados. Por exemplo, podem ter suas arenas chamadas por seus nomes, ou seja, não ter ninguém arbitrariamente rebatizando as arenas por um outro nome por não ter contrato com quem adquiriu os naming rights do estádio. No mercado americano, todas as emissoras chamam as arenas por seus nomes oficiais, independentemente de acordos comerciais. Isso é um pensamento antigo, que a Globo certamente vai reavaliar. A concorrência faz com que isso aconteça.
Quais as dificuldades que vocês têm para entrar em uma operadora? Vocês conseguiram depois de muito tempo negociar a entrada na Net, mas ainda estão fora da Sky.
Tivemos dificuldades, mas elas ficaram no passado. Acho que resolvemos do ponto de vista da distribuição do Esporte Interativo.
Como pessoa física, como cidadão do Brasil, não fico plenamente satisfeito. Não fico feliz em saber que as mesmas barreiras que atrapalharam a entrada do Esporte Interativo na TV paga podem barrar outros canais que queiram entrar nas operadoras no futuro.
Que barreiras são essas?
Realmente prefiro não entrar especificamente. Todos sabem quais são. Quando Bandsports e Fox Sports entraram no mercado, sofreram essas dificuldades também. São as mesmas. Basta resgatar.
Agora vocês concorrem com o Grupo Globo em diferentes frentes. Primeiramente, como canal de TV por assinatura, com o SporTV. Em outro aspecto, competem pelos direitos de transmissão dos clubes. Como disputar com um grupo historicamente tão enraizado no país?
Em primeiro lugar, a Globo faz um trabalho extraordinário há muito tempo na área de esportes. Mas acreditamos que há espaço para mais de um 'player'. A concorrência existe em qualquer mercado mais desenvolvido. Não queremos desafiá-los, mas construir nosso próprio espaço. Ficamos muito felizes com a reação que recebemos dos torcedores nesse processo. Por conta de ser um player só há muito tempo, gera essa tensão toda na mídia. Acho que para o bem do futuro, essa disputa vai se tornar muito natural no futuro, com a possibilidade de entrada de ainda mais players na concorrência por direitos, forçando todos a serem mais competentes. Podem entrar Fox, Espn, e isso é mais saudável para o mercado.
Outro ponto é a qualificação do futebol brasileiro. Todos sabem que o nosso futebol tem perdido espaço para o europeu. Perdemos nossos principais jogadores para eles, e agora mesmo jogadores intermediários deixam o país. Para trazermos esses jogadores ou talvez até as grandes estrelas de volta, precisamos fortalecer o futebol nacional. E os pilares do fortalecimento são: profissionalização da gestão dos clubes; a concorrência pelos direitos de transmissão, já que eles são a maior fonte de receita dos clubes; e uma cooperação entre grupos de mídia detentores de direitos com os clubes.
Com a combinação desses três fatores, os clubes conseguirão encontrar fontes de receitas que permitirão que eles dependam menos dos direitos de transmissão. Por exemplo, negociamos com Palmeiras, Grêmio e Atlético-PR, clubes que têm arenas super modernas. Eles podem gerar receita com naming rights, por exemplo, quando o nome das arenas são falados em transmissão. Além disso, como o Esporte Interativo pode ajudar? Estamos conversando sobre ceder o sinal da nossa transmissão para que os sócios-torcedores possam ver o replay dos lances nos smartphones, para que assistam ao pré-jogo e ao pós-jogo nessas plataformas.
Isso valorizaria ainda mais os programas de sócios-torcedores como o Avanti, do Palmeiras, por exemplo, deixando os clubes com mais receitas e menos dependentes da televisão.
No longo prazo, dessa forma, os direitos de transmissão vão custar mais caro, obviamente. Mas do ponto de vista do Esporte Interativo, é melhor pagarmos mais caro e ajudar o esporte a se desenvolver do que fazermos o futebol brasileiro nosso refém. É o que diferencia nosso projeto do que vem acontecendo nos últimos 20 anos, quando a dependência exagerada dos clubes da Globo fez com que eles esperassem adiantamentos e não buscassem novas linhas de receita. A gente acredita que há uma oportunidade de tirar o atraso dos últimos 20 anos caso clubes e grupos de mídia pensem no sentido de melhorar o futebol brasileiro. Por: Futebolbahiano
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