BRASIL / SÃO PAULO: Especialistas alertam: chuva será insuficiente para recuperar Cantareira

Um estudo do Consórcio Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ) mostra que se as chuvas voltarem a cair dentro da média histórica nos próximos meses, o Sistema Cantareira, que abastece parte de São Paulo, conseguirá se estabilizar, levando alento às 6,5 milhões de pessoas abastecidas por ele, especialmente na capital paulista.
No entanto, de acordo com o próprio consórcio e com especialistas consultados pelo iG, não basta contar apenas com o fim da estiagem para recuperar totalmente os reservatórios do sistema, que precisariam de um acumulado de mil milímetros de chuva em 90 dias para saírem do chamado volume morto e voltarem a um nível razoável de volume útil: é necessário uma brusca mudança de gestão na forma de tratá-los, o que deve levar em conta a saúde ambiental de toda a região.
Professor do Departamento de Engenharia Sanitária e de Meio Ambiente da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Adacto Ottoni afirma que, apesar do alardeado pelo governo paulista, a crise hídrica não é a grande vilã da atual situação no território da unidade federativa.

Problema de gestão
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Para o estudioso, a culpa para o que vem ocorrendo ao longo de todo o ano de 2014 é a falta de qualidade de gestão, que ignora os vazamentos de água – cuja média, devido principalmente à falta de manutenção das tubulações, é superior a 50% no País (e em média de 20% em São Paulo) – e, principalmente, à qualidade dos mananciais.
"Olha para a Bacia do Cantareira: está toda careca, cheia de erosão. Isso faz com que, se chover, a chuva acabe indo para o rio, que acaba transbordando e levando toda a água para o mar. Assim, quando chegar a estiagem do ano que vem, voltará a faltar água", diz Ottoni, citando a necessidade de se reflorestar a área dos reservatórios, solução que garante ser simples e que ajudaria a reter de 80% a 85% da água da chuva no solo.
Apesar de teoricamente a região já ter entrado no início da época de chuvas, as precipitações na região dos reservatórios seguem baixas em relação a anos anteriores. De acordo com dados da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), a pluviometria acumulada em outubro na região do Cantareira foi, até domingo (26), de 30,6 mm, muito inferior à média histórica de 130,8 mm. Padrão repetido em todos os seis sistemas que abastecem o Estado – apenas o Rio Claro, no município de Salesópolis, passou de metade da média, mantendo seu volume disponível em 47,3%.
Assim, a situação dos reservatórios vai dia a dia se complicando, especialmente nos dois mais utilizados na Grande São Paulo: o Cantareira e o Alto Tietê. Com a primeira cota do volume morto, o nível do primeiro chegou a 2,4% no domingo – 13,2% com a segunda "reserva técnica" –, enquanto o do segundo, a 7,6%.

Sem vegetação, solo parece esponja
Integrante do Comitê da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, o sanitarista José Roberto Kachel tem opinião semelhante a de Ottoni. O especialista defende que o poder público haja para impedir a instalação de ocupações irregulares em suas redondezas. "Quando não há vegetação, o solo fica exposto, sofre erosão e não absorve a água da chuva. E é lá no subsolo onde se encontra o verdadeiro reservatório", diz. "É como uma esponja que absorve e mantém a água ali. E, à medida em que você satura o subsolo de água, ele vai liberando o recurso devagarinho. As nascentes só secam porque o subsolo seca."
Mas, como a chuva é necessária e os vazamentos das redes, uma realidade, também não bastam somente essas medidas. Professor de Gestão Ambiental da Universidade de São Paulo (USP), Pedro Luiz Côrtes afirma ser urgente uma mudança cultural em relação ao uso de água tanto em território paulista quanto em todo o País.
Para Côrtes, uma forma de se fazer isso seria aumentando o preço do recurso e taxando aqueles que o utilizarem em exagero, a exemplo da norma que o governo de Geraldo Alckmin chegou a anunciar no primeiro semestre e acabou, no entanto, voltando atrás.
"Não é uma solução popular, mas deve fazer a população valorizar mais o que tem", diz ele, enumerando outras soluções possíveis para um menor desperdício da água, como reuso do recurso, além da construção de mais reservatórios em todo o Estado, a fim de captar o máximo possível dele quando disponível.
Secretário-executivo do Consórcio PCJ e professor universitário de Saneamento da Fundação Municipal de Ensino de Piracicaba, Francisco Lahóz vai ainda mais longe. Para o professor, não tem mais sentido discutir o Cantareira, que ele só vê se recuperando dentro de "cinco, dez, talvez 15 anos": é preciso aplicar o máximo de alternativas possíveis para que a população não fique mais dependente do sistema, entre elas a construção de cisternas em ao menos 50% das residências para absorver água da chuva e até a dessanilização da água do mar, "que poderia ser feita com a construção de adutoras ligando o Oceano Atlântico, a partir do litoral paulista, aos reservatórios".
"É só encontrar uma bacia ou enseada em que o nível se mantém elevado e vamos a partir disso. Se tivermos de dessanilizar água do mar, vamos fazê-lo. Temos tecnologia para isso. Só não dá para ficar esperando água da chuva como os índios faziam", avalia o professor. "Não dá mais para ficar discutindo defunto, volume morto. É hora de ir além."
Se as soluções para a crise hídrica apontadas pelos especialistas podem variar, em uma questão todos são unânimes: a situação atual é grave e, se não for feito planejamento levando em conta o médio e o longo prazo, a população de diversos Estados se verá em breve com as torneiras totalmente secas, o que também afetará os setores agrícola e industrial – gerando inflação, desemprego e até déficit de alimentos.
"Se nada for realmente novo for feito prevejo o caos. Basta ver o que está acontecendo em Itu. E os paulistanos estão a um mês daquela situação", lamenta Kachel. "O que desejo muito é um gesto de nobreza dos políticos para que decretem estado de calamidade pública para poderem abrir os cofres para investimento de novas alternativas. Só assim conseguiremos evitar com que, daqui a um ano, estejamos discutindo mais uma vez esse problema", conclui Francisco. Por: tribunadabahia
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