FIQUE SABENDO! / O FACEBOOK NÃO É O JUSTICEIRO DA ESQUERDA – SÓ ESTÁ TENTANDO SALVAR A SUA IMAGEM
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Foto: David Paul Morris/ Bloomberg/ Getty Images |
O Monitor do Debate Político no Meio Digital, uma iniciativa de pesquisadores de USP que acompanha páginas de direita e esquerda no Facebook desde 2016, tem pouco mais de 20 páginas de direita mapeadas – um número muito menor do que a rede derrubada pelo Facebook. “Essa desproporção entre o que estava em atividade e o que caiu agora nos sugere que o Facebook identificou a criação de uma rede de páginas novas que provavelmente seriam usadas no período eleitoral”, escreveram os pesquisadores.
Não seria novidade: a criação de uma rede para espalhar mentiras ou distorções foi a mesma estratégia de parte da direita americana, que ajudou a impulsionar o então candidato à presidência Donald Trump. E é típico dos conservadores brasileiros copiarem as estratégias questionáveis da direita americana. No Brasil, as redes de fake news agem de forma articulada e recebem, inclusive, dinheiro público por meio de partidos políticos.
O justiceiro da esquerda
Um dia antes de derrubar as páginas, o Facebook publicou no Brasil um resumo detalhado de seus esforços para as eleições por aqui, consideradas uma “prioridade” para a rede social. O nome do comunicado deixa clara a postura da empresa. Avisou que agiria contra “pessoas mal-intencionadas”. No dia seguinte, as páginas caíram. A justificativa do Facebook é que os conteúdos eram relacionados a contas falsas, participavam de comportamentos não autênticos coordenados e enganavam “as pessoas na tentativa de incentivar compartilhamentos, curtidas ou cliques”.
A derrubada foi eficiente para aliviar a barra do Facebook.A esquerda brasileira aplaudiu Zuckerberg, se esquecendo do papel omisso que a rede social teve por anos ajudando a espalhar desinformação. O Facebook sempre disse ser contrário à censura e, por muito tempo, manteve uma postura permissiva com relação a conteúdos ofensivos. Tem a ver com dinheiro: quanto mais engajamento, melhor.
Na semana passada, a rede de TV inglesa Channel 4 publicou um documentário que mostra como a rede protege páginas populares que publicam conteúdos ofensivos que violam as próprias regras do Facebook. Um repórter infiltrado numa empresa terceirizada que faz a moderação de posts comprovou que a rede de Zuckerberg pode aliviar as punições de fanpages que geram muitas interações. As maiores páginas que representam a nova direita brasileira continuam no ar, com seguidores na casa dos milhões.
A derrubada, porém, foi eficiente para aliviar a barra do Facebook. E mostra o esforço que Zuckerberg e sua equipe têm feito para tentar minimizar seu papel em tragédias eleitorais como a que aconteceu nos EUA – um movimento esperto, midiático, que não muda seu modelo lucrativo.
Enquanto a esquerda aplaudia o Facebook, a direita se contorcia em retóricas para posar de vítima de censura. Flávio Rocha classificou a derrubada da página como “uma violência”. E colocou o Facebook como carrasco totalitário: “nem no tempo da ditadura se verificava tamanho absurdo”, escreveu no Twitter.
O MBL fez um comunicado assumindo que várias páginas derrubadas eram ligadas ao movimento e prometeu tomar medidas que gerem “consequências exemplares” ao Facebook. O movimento chegou a publicar um post fazendo a falsa associação entre a queda do valor das ações da empresa na Bolsa de Nova York e a notícia no Brasil – a perda de valor, na verdade, está ligada ao balanço da empresa, divulgado por coincidência hoje, que frustrou investidores.
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Queda das ações do Facebook, na verdade, está ligada ao balanço da empresa, que frustrou investidores. Montagem: reprodução MBL |
Mais longe ainda foi o Jornalivre, que cravou que a ação do Facebook foi feita para “proteger partidos de extrema-esquerda nas eleições deste ano”. A narrativa de tentar colar Zuckerberg à esquerda brasileira foi, literalmente, importada da direita americana – e não passa de fake news. A própria esquerda brasileira também reclama de censura na rede social.
Foto em destaque: Mark Zuckerberg, fundador do Facebook.
Por: theintercept/ Tatiana Dias

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