PRECONCEITO / Vitória de “merda” e Bahia “sardinha”: O que está por trás do preconceito da imprensa do sul?

Se engana quem pensa que o preconceito racial é o único ou maior problema que assola o futebol brasileiro.

O racismo institucional, que se dá quando estruturas e instituições atuam de forma diferenciada em relação a determinados grupos, está impregnado no esporte mais popular do Brasil.

Esse preconceito sempre aconteceu de forma bastante sutil, mas tem começado a incomodar torcedores nordestinos por se tornar cada vez mais comum e, portanto, incapaz de ser camuflado.

Na semana passada, dois jornalistas de canais esportivos importantes no Brasil – PVC (ESPN) e Bruno Souza (SporTV) – tornaram mais claro o problema ao fazerem comentários que provocaram a reação dos torcedores do Bahia e do Vitória. Intencionalmente ou não, os dois jornalistas menosprezaram as equipes baianas.

Paulo Vinícius Coelho afirmou que Ney Franco agiu certo ao sair do Vitória, já que o time rubro-negro não tinha uma equipe à altura do treinador. “Desproporcional”, gritou ferozmente o comentarista. O colega do concorrente SporTV comentou em tom de deboche a notícia de que o ídolo do San Lorenzo, Romagnolli, poderia estar vindo para o Tricolor.

Ironicamente, o Vitória se encontra na frente do Flamengo, na classificação do Brasileirão, enquanto Romagnolli já tem um pré-contrato assinado com o Bahia.

Mas, no país onde todos se vestirão de forma igual durante a Copa do Mundo na torcida pelo hexacampeonato, a maior resposta tem que ser dada fora das quatro linhas.

Comportamentos como os dos citados jornalistas podem não ser obra do acaso, ou mera coincidência. Há quem diga que é reflexo de um preconceito que já existe naturalmente contra a população nordestina e que, no futebol, por não ser repreendido igualmente, acontece de forma escancarada e desenfreada.

Há também quem desvie o termo “preconceito”, sob alegação que o tratamento desigual dos times nordestinos em relação aos de Rio e São Paulo, seja resultado da absurda disparidade financeira, como a receita em cotas de publicidade, por exemplo: A partir de 2016, Flamengo e Corinthians receberão, cada um, 170 milhões de reais pelos direitos de transmissão de suas partidas, enquanto Bahia, Vitória e Sport devem receber cerca de 20% disso (35 milhões).

O que fica cada vez mais evidente é o sentimento de superioridade de boa parte da imprensa de Rio e SP, principalmente, com os inúmeros casos de desrespeito às equipes nordestinas e com os recentes casos de racismo no futebol. Fica difícil não associar uma coisa a outra.

Os comentários, como os de Bruno Souza e PVC, podem parecer “pequenos” diante dos olhos de algumas pessoas, mas carregam um peso doloroso de preconceito. E eles não estão sozinhos.

Quem não se lembra de Lélio Gustavo, apresentador do BH Esporte News, se referindo ao Vitória como “merda”? Ou ainda de Dr. Osmar, da Bandeirantes, dizendo que seria uma evolução para Marcelo Lomba trocar o Bahia pelo Palmeiras?

Casos assim conseguem passar despercebidos para algumas pessoas, mas não para outras. Em 2008, Luciano do Valle fez um desabafo e criticou colegas de profissão que menosprezaram o Sport na final da Copa do Brasil daquele ano, quando o Leão pernambucano enfrentou o Corinthians e sagrou-se campeão.

Na mira das “grandes mídias” e seus “guerreiros”, o nordeste não cansa de ser “fuzilado”. Mas não há escudo maior do que milhões de torcedores nordestinos, que vestem a camisa de seus times, vão aos estádios e são responsáveis por médias de público como a do Santa Cruz, em 2013, a segunda maior do Brasil, ainda que na Série C.

Só que a imprensa insiste em dizer que grandes torcidas de verdade são apenas as de Flamengo e Corinthians.

Uma medida adotada por muitos torcedores é assistir às partidas, na TV, de seus clubes no modo “mudo”, sem o áudio da emissora. Talvez seja esta a solução pra não ouvir comentários com algum tipo de desqualificação ao seu time. Fonte: VarelaNoticias