A empresa que coordenava o trabalho de grampos da CIA, a Booz-Allen, na qual trabalhava Edward Snowden, araponga que entregou a bisbilhotice norte-americana sobre o mundo, é uma das grandes empresas de consultoria mundial. Com dinheiro do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), o governo de Fernando Henrique Cardoso contratou seus serviços para consultorias do "Brasil em Ação" (primeiro governo FHC), o "Avança Brasil" (segundo governo FHC), em programas de privatização (saneamento e transporte) e reestruturação do sistema financeiro nacional. O levantamento foi feito pelo site Carta Maior.
Sentindo o cheiro de queimado, FHC reagiu de pronto, no dia 8 de julho passado, à matéria de O Globo, que trazia a denúncia de que, pelo menos até 2002, Brasília sediou uma das estações de espionagem nas quais funcionários da NSA e agentes da CIA trabalharam em conjunto. Pelo facebook, o ex-presidente acusou o golpe. “Nunca soube de espionagem da CIA em meu governo, mesmo porque só poderia saber se ela fosse feita com o conhecimento do próprio governo, o que não foi o caso. De outro modo, se atividades deste tipo existiram, foram feitas, como em toda espionagem, à margem da lei. Cabe ao governo brasileiro, apurada a denúncia, protestar formalmente pela invasão de soberania e impedir que a violação de direitos ocorra...”, defendeu-se.
O jornal afirma ter tido acesso a documentos da NSA, vazados pelo ex-agente Edward Snowden, que trabalhou como especialista em informática para a CIA durante quatro anos, nos quais fica evidenciado que a capital federal integrava um pool formado por 16 bases da espionagem para coleta de dados de uma rede mundial.
Este é um problema. Mas há outro, maior, que é exatamente o fato de que a empresa que o denunciador trabalhava como espião prestou consultorias ao governo brasileiro na época de FHC. Ou seja, o Brasil pode ter pago por consultorias que financiavam a arapongagem dos EUA no país.
Espionagem e grampos não é algo novo para FHC e seu partido, o PSDB. Durante a privatização do sistema Telebrás, grampos no BNDES flagraram conversas de Luiz Carlos Mendonça de Barros, então ministro das Comunicações, e André Lara Resende, então presidente do BNDES, articulando o apoio da Previ para beneficiar o consórcio do banco Opportunity – que tinha como um dos donos o economista Pérsio Arida, amigo de Mendonça de Barros e de Lara Resende.
O próprio FHC foi gravado, autorizando o uso de seu nome para pressionar o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil (Previ). Em outro emaranhado de fios, em 1997, gravações revelaram que os deputados Ronivon Santiago e João Maia, do PFL do Acre, ganharam R$ 200 mil para votar a favor da emenda da reeleição, que permitiria o segundo mandato a Fernando Henrique.
Destes grampos, FHC também disse que nada sabia. Mas, como a vida é a arte da coincidência, a ex-embaixadora dos Estados Unidos no Brasil entre 2000 e 2004, Donna Hrinak, tão logo se despediu do cargo no país, sentou-se na cadeira de assessora qualificada da Kroll, a empresa internacional de espionagem que operou a serviço de Daniel Dantas e do banco Opportunity em nosso território. A Kroll foi usada para bisbilhotar autoridades e chegou a espionar ministros do governo Lula, conforme investigação d a Operação Chacal, da Polícia Federal, deflagrada em 2004.
Ou seja, tem muita coisa esquisita que se cruzam. Booz-Allen e suas consultorias pró-privatização, grampos da privatização da Telebrás, Oportunity, Kroll, embaixadora dos EUA ocupando cargo na Kroll etc. E agora as denúncias de Edward Snowden trazidas à luz pelo jornal O Globo.
Uma Comissão Parlamentar de Inquérito CPI para investigar tudo que aconteceu neste período seria salutar. E deveria contar com o apoio do PSDB, partido que está em suspeição neste caso.
Mas será que o partido de FHC, que tanto defende CPI, vai querer apoiar esta? E o PT, que tanto medo tem de mexer em cumbuca, vai ganhar coragem agora?
A sociedade espera uma resposta dos dois principais partidos do país. bahiatododia
Nenhum comentário:
Obrigado pelo seu comentário. A área de comentários visa promover um debate sobre o assunto tratado na matéria e não troca de ofensas entre leitores. Comentários anônimos e com tons ofensivos, preconceituosos e que firam a ética e a moral não serão liberados.
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site Val Bahia News.