Uma doença extremamente agressiva, que pode matar o coqueiro em três meses após o aparecimento dos primeiros sintomas, pode chegar aos coqueirais brasileiros em breve.
Esse foi o alerta feito pelo pesquisador francês Michel Dollet, da agência francesa de pesquisa agronômica (La Recherche Agronomique pour le Développement - Cirad), em palestra ministrada em Maceió.
O especialista se referia ao amarelecimento-letal que atinge palmáceas. De olho no problema, a Embrapa editou uma publicação disponível on-line com orientações para os produtores. Pesquisadores recomendam monitoramento contínuo das plantações para detecção precoce da doença.
Dollet é referência mundial em epidemiologia e manejo de doenças letais do coqueiro, e vem atuando em cooperação com pesquisadores da Embrapa desde 2015 no projeto ‘Aprimoramento do conhecimento científico sobre o Amarelecimento Letal do coqueiro, uma doença quarentenária A1 (ainda não detectada no território nacional), e outras doenças emergentes para apoiar medidas preventivas de controle e de contingência no Brasil', cujo líder é o pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros (SE), Leandro Diniz.
O objetivo da cooperação é aprofundar os conhecimentos dos pesquisadores brasileiros sobre o amarelecimento-letal, informar e preparar os produtores para a adoção de medidas preventivas e identificação precoce e também executar um plano de contingência caso a doença chegue ao território brasileiro.
A doença
O amarelecimento-letal é uma doença causada por um microrganismo do tipo fitoplasma que se dissemina por meio de insetos vetores, os quais se alimentam das folhas de palmáceas (Myndus crudus Van Duzee), e já atingiu coqueirais e palmáceas da África, Costa Atlântica, várias ilhas da América do Norte e Central e já se encontra no México e Honduras.
Registrada a doença em uma área, a paisagem muda em questão de meses. Os coqueirais afetados ficam, na fase final da doença, com os estipes (nome dado ao tronco do coqueiro) sem folhas, lembrando postes após uma explosão, e a imagem contrasta com os cartões postais de praias tropicais.
Em 1980, a doença foi responsável pela morte de mais de sete milhões de palmeiras na Jamaica. Epidemias similares a essa ocorreram também em Cuba, Haiti, República Dominicana, Bahamas e Flórida. Em 1997 a doença chegou a Cozumel e Cancun, no México, e seguiu pela península de Yucatán até Honduras. Nos últimos 30 anos, cerca de 50% dos coqueiros da Flórida e 80% dos da Jamaica morreram em consequência do amarelecimento-letal.
Os coqueiros, além de diversas outras espécies de palmáceas suscetíveis à doença, e uma vez infectadas, morrem em um período de três a seis meses após o aparecimento dos primeiros sintomas. Não existem tratamentos eficientes para o controle dessa doença.
De acordo com Dollet, é impossível prever por onde ou quando a doença poderá chegar ao Brasil. "O amarelecimento-letal pode chegar via América Central, Caribe ou diretamente da Flórida (EUA) ou Moçambique. Muitos focos são resultantes de importação sem controle que introduzem a doença e seu inseto vetor", explica.
Identificação e prevenção
Uma das iniciativas do projeto foi a edição de um boletim de alerta para a doença, que terá distribuição massificada entre produtores, agentes de defesa agropecuária e assistentes técnicos das regiões produtoras. A publicação está disponível online.
Os sintomas aparecem em sequência, começando pela queda repentina de todos os frutos da planta, tanto os grandes quanto os pequenos; em seguida se observa o amarelecimento das folhas mais velhas – que estão na porção mais baixa da planta; depois vem o escurecimento, manchas marrons e necrose das inflorescências; no próximo estágio, há a progressão do amarelecimento das folhas de baixo para cima – após amarelecer, a folha se torna marrom e ocorre a sua queda; no estágio final ocorre o apodrecimento e morte da planta, restando apenas o estipe sem folhas.
Assim que o produtor perceber um ou mais coqueiros, ou outra espécie de palmeira, com os sintomas descritos, deve fotografar as plantas e entrar em contato com a Embrapa através do Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC).
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) instituiu, no final de 2013, um plano de contingência para o amarelecimento-letal do coqueiro. Registrado na Instrução Normativa número 47, o plano determinou a criação do Grupo Nacional de Emergência Fitossanitária (em que estão integrados os pesquisadores da Embrapa) para identificar, propor e articular a implementação de ações preventivas de vigilância fitossanitária relacionadas com a doença.
Só é possível determinar em definitivo se a planta está infectada pelo amarelecimento- letal por meio de exames em laboratórios especializados. Por isso, é importante que o produtor, ao notar os sintomas descritos, entre em contato com a Embrapa.
Além de entrar em contato com a Embrapa, o produtor deve procurar a Superintendência Federal de Agricultura do seu estado, que adotará os procedimentos de coleta de amostras na plantação e as encaminhará para exames nos laboratórios, sob a responsabilidade do Departamento de Sanidade Vegetal (DSV) do Ministério.
Os contatos da Ouvidoria do Mapa em Brasília são 0800 704 1995 e ouvidoria@agricultura.gov.br.
Os especialistas afirmam que a única maneira de contingenciar a doença é quando existem poucas plantas infectadas. Ao permitir que um foco da doença se dissemine, poderá ser necessário que todas as plantas da área sejam destruídas. Caso contrário, a doença vai se espalhar para plantações vizinhas e poderá atingir todo o País. Os pesquisadores ressaltam que a doença não causa qualquer problema à saúde humana e animal.
Parceria
O projeto de pesquisa conta com a parceria da equipe de pesquisadores em coco da Embrapa Tabuleiros Costeiros, que têm o mandato nacional das pesquisas sobre essa cultura, além da Embrapa Amazônia Oriental (PA) e do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), Universidade Tiradentes (Unit), Universidade Federal de Lavras (Ufla), Universidade Federal de Sergipe (UFS), Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf) e as empresas Sococo, Pepsico e Aurantiaca.
De acordo com Leandro Diniz, uma das ações do projeto é a formação de um grupo multidisciplinar. "Com o envolvimento de todos, será possível desenvolver pesquisas relacionadas às causas, transmissão e manejo de doenças do coqueiro pouco conhecidas ou que ainda não foram detectadas no Brasil", afirma. Entre essas doenças estão a atrofia-letal-da-coroa do coqueiro (ALCC) e a murcha-de-fitomonas ou hartrot, esta também ameaça a cultura do dendê.
Para a pesquisadora da Embrapa Tabuleiros Costeiros Viviane Talamini, especialista em doenças do coqueiro, o projeto possibilitará aprofundar o estudo em doenças emergentes e pouco pesquisadas no Brasil. "Nossa Unidade tem tradição em pesquisas com o coqueiro, e esses estudos irão contribuir significativamente para o avanço do conhecimento sobre as doenças desta cultura", ressalta.
Quarentenárias
Praga ou doença quarentenária é todo organismo de natureza animal e/ou vegetal, fungo ou bactéria que, estando presente em outros países ou regiões, mesmo sob controle permanente, constitui ameaça à economia agrícola do país ou região importadora exposta. A definição das pragas quarentenárias é coordenada pelo Mapa. Acesse a lista de quarentenárias.
Esses organismos são geralmente exóticos para esse país ou região e podem ser transportados de um local para outro, auxiliados pelo homem e seus meios de transporte, através do trânsito de plantas, animais ou por frutos e sementes infestadas.
As pragas quarentenárias se agrupam em duas categorias: A1, as pragas exóticas não presentes no País, e A2, pragas de importância econômica potencial, já presentes no País, porém apresentando disseminação localizada e submetidas a programa oficial de controle. Por: Tribunadabahia
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